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primavera
julie dumont  


O equinócio da primavera, anunciando o fim do inverno, dias mais longos e o sol ardente ocorre quando o período diurno tem a mesma duração do que o período noturno, com os raios solares incidindo diretamente sobre a linha do Equador, fazendo com que os dois hemisférios do planeta recebam a mesma quantidade de luz e escuridão.

Este momento reflete a busca conceitual de Estela Sokol que desdobra, em suas obras, um interesse pelo equilíbrio, operando um jogo de pesos e tensões entre matérias e formas, uma ida e volta entre o dia e a noite, o sol e a lua.

Primavera apresenta assim uma síntese da produção da artista ao longo da última década, evidenciando uma busca constante pela essência geométrica das coisas e das cores e suas relações com o espaço.

No jogo de simetrias de seu corpo de obras, Estela Sokol estabelece uma relação direta com o mundo, suas silhuetas e nuances que ela sintetiza ao extremo. Assim, encontramos nos seus trabalhos, as estruturas e a paleta do cotidiano: o laranja meio tóxico de um pôr do sol urbano, o rosado do amanhecer na beira do mar, os contornos suaves sob o luar, ou ainda os reflexos capturados na superfície da água ou do manto branco da neve, deslocados agora nas paredes expositivas.

Com a inserção pontual de feixes luminosos nas frestas de arranjos aparentemente frios, ou aplicando pigmentos luminescentes na superfície das suas esculturas, Estela Sokol revela como a cor - que se tornou o protagonista principal da sua obra - pode se tornar luz e chama o espectador para uma relação orgânica, simbiótica com o céu e as aguas, em um dialogo íntimo com a natureza.

Dessa forma, embora sua obra dialogue com neo-concretos, ela também ressoa com o conceito de estética relacional idealizado por Nicolas Bourriaud no continuum histórico da década de 1960. Pois as obras de Estela Sokol convidam a se relacionar não somente com o objeto de arte, seus relevos e dimensões, mais também com seu entorno, propiciando um meio sutil de reunir pessoas.

Ainda reverberando Bourriaud, a obra da artista parece desvelar uma nova definição do sublime: se o artista, é aquele que consegue distinguir formas nítidas na neblina do presente - pois a forma é seu domínio - a proposta de Estela Sokol pode ser enxergada com uma nova leitura do conceito romântico da relação do humano com a natureza. De fato, no contexto do Antropoceno e da destruição ambiental, Estela Sokol sugere talvez um novo modo de se relacionar com o mundo, uma escape poética para a fumaça que encobre o céu.


 outubro de 2024

primavera

exposição individual com curadoria de julie dumont
galeria karla osório, brasília, brasil, 2024