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WXRTD-320


exposição individual com curadoria de cauê alves
galeria virgilio, são paulo, brasil, 2005
fotos bruno dunley e jaques faing


+ sobre as obras


manobrinhas, 2005

layers, 2005



WHXRTD- 320

cauê alves

Os trabalhos recentes de Estela Sokol realizam no espaço tridimensional o que se apresentava vagamente como potência em suas xilogravuras. Vagamente porque, mesmo que estivessem no campo do possível, não eram previsíveis, poderiam ter se constituído de outro modo ou simplesmente não ter existido, o que seria de se lamentar. Embora suas gravuras já investigassem dobras no espaço e descontinuidades em planos, pode-se dizer que a despeito da coerência de seu percurso, sua produção atual representa uma ruptura. Não se trata apenas da mudança de suporte ou da técnica, mas da conquista de novos elementos.

       Entre eles está a escala cromática com predominância do laranja, rosa, branco, vinho e fumê. As cores são as do mostruário da fábrica de acrílico, mas as sobreposições de duas ou mais chapas as transformam, fazendo-as tender com diversas nuanças de meios tons para o marrom. Se algumas de suas peças anteriores refletiam plenamente seu entorno, aqui a transparência é tornada opaca. O que era translúcido passa a sugar a luz ao seu redor e a abriga-la em seu interior. A refração faz com que a luz, além de mudar de direção ao se propagar em um novo meio, tenha seu tempo alterado. Ao atravessar essas esculturas ela não sai ilesa, é como se a luz se tornasse parte de cada uma delas.

       O acrílico, ainda mais com a pouca espessura com que se apresenta, não oferece resistência à ação. A artista pode dobra-lo conforme sua vontade de ordenação e de composição, mas nem tudo está acomodado. Algumas peças, tanto de parede como de chão, por não terem sido moldadas com calor, estão tencionadas num ponto próximo ao de seu limite de rompimento. Elas se curvam para dentro, fechadas em si mesmas, mas não dissimulam sua capacidade de expansão e uma força contida por contrapesos de mármore. Antes de assemelharem a uma catapulta, há um equilíbrio provisório de compensação de forças.

       O material que as compõem e a sua falta de ligação com a natureza se sobressaem. Nesses trabalhos a artificialidade não se mostra apenas pela apropriação de materiais pré-fabricados resistentes à ação do tempo. Algo da facilidade da vida contemporânea, em que quase tudo se submete à técnica ou esta ao alcance da mão, permanece nelas. Entretanto, enquanto a tecnologia tende a ocultar as significações dos materiais e a usa-los de um modo utilitário, Estela Sokol busca uma verdade do acrílico nas dobras de seus relevos e esculturas.

agosto de 2005